A mais antiga menção a uma personagem chamada Tamuz é a de um rei e pastor sumério chamado Dumu-zid ou Dumuzi. Diz-se que foi o quinto rei antes do Dilúvio e que governou durante 26 000 anos. A menção seguinte é a de um pescador/rei que governou por volta de 2700 a.C., imediatamente antes de Gilgamesh. Existe também uma lenda segundo a qual Tamuz era filho da rainha Semiramis, nascido após a morte do seu pai Ninrode, que construiu os doisBabel e Nínive (Génesis 10,8-12). Mas muitos acreditam que Ninrode é outro nome para Gilgamesh, o que torna a questão ainda mais complicada. É possível que a lenda do semi-deus Dumuzid/Tammuz tenha tido origem numa destas personalidades, mas não sabemos.

No 3º ou 2º milénio a.C., os sumérios ensinavam que um jovem e belo pastor tinha nascido de um dos deuses principais, Enki, e da deusa das ovelhas, Duttur. A deusa Inanna apaixonou-se por Dumuzid e tomou-o como seu consorte (era a deusa do amor, da fertilidade e da guerra, mas nunca do casamento). Os acádios ensinavam praticamente o mesmo nos 2º e 1º milénios a.C., embora aPara os acádios, Enki era conhecido como o Ea que salvou a família de Utnapishtim (Noé) em "A Epopeia de Gilgamesh".

O problema começou quando Inanna/Ishtar foi para a terra dos mortos. Há pelo menos duas histórias contraditórias sobre a razão pela qual Ishtar desceu ao submundo. Uma diz que Tamuz foi morto por salteadores do submundo e Ishtar foi trazê-lo de volta à vida. O mito mais comum, no entanto, começa com o desejo de Ishtar de tomar o submundo de sua irmã Ereshkigal. Os Anunnaki, juízes doO mundo subterrâneo, julgou e condenou Ishtar pela sua arrogância, condenando-a à morte e declarando que o seu cadáver seria exposto, pendurado num prego.

Infelizmente para o resto do universo, enquanto Ishtar estava morta não havia atividade sexual nem procriação de qualquer tipo. Ea apercebeu-se do problema e fez um acordo. Ishtar podia regressar à terra dos vivos, mas tinha de encontrar outra alma para ocupar o seu lugar no submundo. A substituta não podia ser alguém que estivesse a chorar a sua morte. Não conseguiu encontrar ninguém, deus ou humano, atéchegou à sua própria sala do trono, onde Tamuz estava sentado, vestido com vestes finas em vez do mais apropriado pano de saco e cinzas.

Por causa da sua falta de devoção, Ishtar mandou os seus demónios atrás de Tamuz. Este escondeu-se em casa da sua irmã Geshtinana, mas os demónios encontraram-no e arrastaram-no para o submundo. Com o tempo, Ishtar arrependeu-se das suas acções precipitadas e lamentou a perda de Tamuz. Os deuses capitularam, declarando que Tamuz e a sua irmã se alternariam, ficando um no submundo enquanto o outro estava com os vivos.

Os gregos, que nunca encontraram um deus estrangeiro a que não se adaptassem, também tiveram o seu Tamuz em Adónis. Diz-se que Afrodite arranjou um rei para engravidar a sua filha. Não se sabe se Afrodite se apaixonou pelo belo filho ou se se sentiu culpada pela sua participação na sua conceção, mas colocou-o numa caixa e entregou-o à sua irmã Perséfone, a deusa do submundo, para que o guardasse em segurança.Perséfone abriu a caixa e também se apaixonou. As irmãs lutaram por Adónis até que Zeus declarou que Adónis tinha de passar quatro meses com Perséfone, quatro meses com Afrodite e quatro meses com quem ele escolhesse (ele escolheu Afrodite). Ártemis ou Ares (os relatos variam) enviaram um javali que matou Adónis. Afrodite ficou tão consumida pela dor que Zeus permitiu que Adónis continuasse a passar parte doo ano entre os vivos.

Os egípcios tinham uma visão diferente de Osíris e Ísis. Ísis era uma deusa benevolente que era devotada ao seu marido/irmão Osíris. O irmão de Osíris, Set, matou-o numa tentativa de tomar o seu trono. Numa história, Set rasgou Osíris em pedaços, Ísis encontrou a maioria dos pedaços e, com a ajuda de um falo dourado, trouxe-o de volta à vida o tempo suficiente para a engravidar com Hórus. Numa história ligeiramente diferenteNa sua versão mais antiga, Ísis encontrou o corpo intacto de Osíris numa caixa selada a chumbo (a origem do sarcófago) que tinha sido absorvida por uma árvore de tamarindo que estava a ser usada como pilar do palácio. Ísis ressuscitou Osíris e engravidou de Hórus, mas Set encontrou Osíris e matou-o novamente, rasgando o seu corpo em pedaços. Ísis encontrou os pedaços, embrulhou-os em tecido e enterrou-o devidamente. Hórus acabou porOs deuses ficaram tão comovidos com a devoção de Ísis que fizeram de Osíris o deus do submundo. Para refletir a sua ressurreição e segunda morte, tornou-se também o deus do Nilo (cujos fluxos e refluxos trazem as colheitas), da reencarnação e do ciclo de vida e morte da agricultura.

A partir do fio condutor da morte e da ressurreição, surgiu a associação de Dumuzid/Tammuz/Osiris/Adonis como o deus da fertilização, do renascimento e da agricultura. Embora tenha começado como o deus sumério da boa erva, dos cordeiros saudáveis e do leite abundante, as culturas posteriores consideraram-no o deus dos cereais.É a estes gritos que Deus se refere em Ezequiel 8:14-15: "Então me levou à entrada da porta do norte da casa do Senhor, e eis que estavam sentadas mulheres chorando por Tamuz. Então me disse: 'Viste isto, ó filho do homem? Verás ainda maisNa verdade, o mês hebraico de Tamuz ainda marca a época em que as culturas mais antigas lamentavam o deus da fertilidade. No entanto, em tempos mais antigos, Tamuz era adorado de uma forma diferente. Dizia-se que os reis sumérios assumiam a identidade de Tamuz e acasalavam com a sacerdotisa para garantir uma colheita abundante.

O mito árabe tem uma visão ligeiramente diferente. A poesia dos séculos IX a XI d.C. diz que Tamuz seduziu o rei a adorar os planetas e o zodíaco. Pela sua heresia, Tamuz foi morto várias vezes por meios horríveis, mas voltou à vida após cada morte, exceto a última. Nos séculos X e XI, as mulheres árabes ainda choravam a morte de Tamuz. A literatura árabe também menciona as semelhançasentre Tamuz e o cristão São Jorge, que se diz ter morrido várias vezes enquanto era torturado por se ter recusado a renegar Cristo. São Jorge acabou por morrer definitivamente quando foi decapitado.

Há quem afirme que Tamuz esteve também na origem da história de Jesus. A principal semelhança apontada é a morte e a ressurreição, mas as diferenças são notórias: Jesus foi ressuscitado por Deus, não foi resgatado do submundo por um amante fiel (Actos 2:32); não morreu várias vezes (Romanos 6:10); não foi adorado como o deus do submundo nem como o deus da agricultura; e não morreu uma única veze para sempre, após numerosas ressurreições (Salmo 16,10).

A história de Tamuz não refuta a história de Jesus, mas ilustra o desejo da humanidade de compreender e controlar o mundo natural do qual dependemos. Jesus não veio trazer cordeiros saudáveis ou milho ou as ricas águas do Nilo. E não morreu por causa do ciúme de um amante. Morreu para nos salvar dos nossos pecados (1 Coríntios 15:3-4). Ressuscitou porque DeusE Ele dá vida não às colheitas, mas às nossas almas (João 3,16).

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